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Concórdia

“Se um homem possui alguma grandeza em si mesmo, vem para iluminar — não em uma hora de brilho especial, mas em todos os momentos de seu trabalho diário.” (Berilo Markham)

       Um  homem trabalhou o mês todo e então recebeu seu salário. Feliz, foi fazer as compras da família.

 Voltando para casa, ele quis guardar os alimentos na despensa. A esposa, que fazia companhia à sogra já idosa e ainda cuidava dos três filhos menores do casal, mantendo perfeita ordem e limpeza, foi ajudá-lo.

     Passado um tempo, a família foi pegar mantimentos para o uso diário. Qual não foi a surpresa ao verem que os pacotes de alimentos estavam danificados! Olha de cá, olha de lá, constataram sinais claros de que

algum roedor passara por ali. Nossa, um rato! Que horror! O marido voltou-se para a esposa, cobrando-lhe medidas de higiene. Esta, aborrecida e magoada, lembrou-lhe que sempre cuidara de tudo com carinho e dedicação. Estabeleceu-se um conflito silencioso entre o casal…

     O filho mais velho argumentou que dias antes vira um ratinho correndo pelo quintal. Com certeza ele viera da rua por onde vizinhos deixavam correr restos de alimentos e outros detritos. A culpa era dos vizinhos! A mãe, sentindo-se livre do peso da acusação anterior do marido, lembrou que havia um buraco no armário, um pedaço de madeira meio apodrecido. Talvez o bichinho tivesse entrado por ele. Tudo bem que os vizinhos depositavam sujeira na rua, mas se o marido tivesse feito o conserto do armário, que ela vinha lhe pedindo, isso poderia ter sido evitado… Ali mesmo, cresceu a dúvida entre o casal…

     O filho do meio, muito apaziguador, quis contornar a situação. Confessou que deixara restos de comida na despensa, com pressa de voltar ao futebol com os amigos, esquecendo-se de jogar o embrulho no lixo, como lhe pedira a mãe. Pediu desculpas aos pais, prometendo mais atenção, no futuro.

     A esta altura, o pai ficou enraivecido. Primeiro, a esposa não lhe dera razão; mas ele era o chefe da casa! Depois, veio cobrar-lhe um conserto que ele não tinha tempo para fazer. E agora descobria que o filho andava pela rua com garotos que não eram boa companhia. Aquilo era demais! O que fazia a mulher, que não via essas coisas?

     A mãe, emocionada pela atitude do filho, protestou: “Marido, o menino é um bom garoto e merece um divertimento, inclusive porque só anda em boas companhias”. Ela insistiu que acompanhava a rotina dos filhos, sim! Não precisava ser lembrada dos seus deveres! E o clima familiar ficou ainda mais tenso…

     Nisso, o filho menor, cheio da sinceridade dos pequenos, começou a rir gostosamente. Ria alto e bom som. Teria enlouquecido? Zombava dos pais? O pai perguntou-lhe: “Menino, o que foi? Diga logo, se não quiser ficar de castigo!” O garoto respondeu: “Pai, você e a mãe sempre nos dizem pra resolver as coisas, não é? Mas ficam aí brigando, em vez de aproveitar e consertar o armário, jogar fora a comida estragada, limpar tudo e aproveitar o que está bom. Enquanto vocês brigam, eu tô vendo o ratinho bem ali, ó…”- e apontou para um cantinho do cômodo.

     Gritos e correria geral! De fato, lá estava o terrível roedor, com seus olhinhos vermelhos… Foi então que a avó, que acompanhara tudo em silêncio, espantou o bicho indesejado com uma vassoura e começou a limpar o armário. Pediu a ajuda de todos, que atenderam de imediato, um tanto envergonhados. Depois, ela foi buscar martelo, pregos e um pedacinho de madeira, pedindo que o filho reparasse o armário. Em poucos minutos tudo estava consertado, limpo e arrumado. E a boa mulher saiu dali com passinhos miúdos, silenciosa como de costume. Não criticou e não acusou ninguém; também não apresentou desculpas. Ela fez o que podia, pedindo a ajuda necessária ao grupo, contagiando a todos com seu exemplo singelo e honesto. Então se retirou, deixando ao seu redor um rastro de paz, como que um perfume de bondade…

     Apenas o neto mais novo foi abraçar-se a ela, dando-lhe um beijo estalado na face, dizendo-lhe: ”Obrigado, vó!” Os demais se concentraram em absorver a lição do momento: sinceridade, bom senso, paciência, perseverança, atenção à própria tarefa e ausência de críticas e julgamentos apressados resolvem qualquer conflito. Quando o armário da mente está limpo, o ratinho da discórdia não permanece

ali… E quando a sujeira apareça, é bom que cada um cuide de fazer a sua parte na limpeza…

TENHA UM DIA MUITO FELIZ E ABENÇOADO! HOJE E SEMPRE!!!